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SOU MARÉ: Novo festival celebra a diversidade mareense

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Texto e foto de capa: Ana Cristina da Silva

Publicado originalmente no Jornal O Cidadão


No dia 11 de outubro, o Museu da Maré celebrou a arte, cultura e a vivência mareense com a primeira edição do festival Sou Maré. Ocupando vários espaços do Museu, o festival contou com uma mesa de abertura com profissionais de diferentes áreas, performances de dança, teatro e circo, abertura de exposição, lançamento de livro e gastronomia local. Pensado para ser um evento anual, a proposta é que o festival continue celebrando e valorizando as potências da favela da Maré com muita festa e alegria.


IDEALIZAÇÃO

A ideia de um festival que celebrasse as resistências e diversidades do território surgiu na festa junina do Museu da Maré, realizada em julho deste ano. Para aquela ocasião, o Museu abriu espaço para que empreendedores locais vendessem comidas e bebidas típicas no espaço.

No entanto, muitas outras opções de comidas apareceram naquela época, como conta o arte-educador Matheus Frazão: “A Cláudia (coordenadora do Museu da Maré) falou que não seria o ideal para aquele momento da festa junina. E ela sugeriu que a gente pensasse num festival da diversidade e me colocou nessa função de fazer essa curadoria, nessa idealização do festival junto a ela e à equipe do Museu. E aí tudo começou pela escolha do nome”.


Matheus Frazão mediou a mesa de abertura. Foto: Ana Cristina da Silva
Matheus Frazão mediou a mesa de abertura. Foto: Ana Cristina da Silva

“Eu acho que isso pode expressar tantas coisas, né. É muito mais do que você estar na Maré, você ser Maré. É você ser atravessado por esse ambiente, você ser atravessado por essas ruas, por essas pessoas que aqui moram. E também muito pensando nessa questão do soul, né, da palavra alma e também desse ritmo preto que é o próprio soul (gênero musical afro-americano). Pensar nesse movimento, né, nessas provocações através da arte”. — Matheus Frazão

O FESTIVAL


Realizado no sábado (11) das 10h às 16h, o festival começou com uma mesa de abertura mediada por Matheus Frazão, que reuniu mareenses de diferentes áreas, como Math de Araujo, Fatinha Lima, Rafael Rougues, Nlaisa Luciano, Rodrigo Maré e Jhon Monteiro. Profissionais que representaram, respetivamente, a literatura, o cinema, teatro, as artes visuais, a música e a dança.

Cada um deles refletiu como o território influenciava em seus trabalhos, fazendo com que o debate na mesa se conectasse com o público, resultando numa troca íntima e especial que girava em torno de memórias afetivas do território. 


A mesa de abertura gerou muitas reflexões sobre como o território atua como coletivo. Foto: Ana Cristina da Silva.
A mesa de abertura gerou muitas reflexões sobre como o território atua como coletivo. Foto: Ana Cristina da Silva.
“Eu penso que a minha produção está muito em torno das minhas narrativas dentro da favela e fora dela também. (…) O nosso trabalho, a nossa produção só se manifesta e se concretiza porque existe um coletivo, uma rede de apoio em torno disso. Então, acho que eu penso a Maré a partir desses afetos. Eu penso em minhas produções artísticas a partir dos afetos, porque eu acho que é isso que me impulsiona”.— Nlaisa Luciano durante a mesa de abertura.

Com as barracas de comidas funcionando no pátio, após a mesa de abertura Math de Araújo realizou o lançamento de seu mais recente livro, intitulado “Capitães de Água”. A obra apresenta 56 poemas que partem das reflexões do mareense durante seu processo terapêutico. Durante o evento, o autor chegou a ler algumas de suas poesias, como “Prego no Chinelo”, que aborda a rotina corrida de quem trabalha e estuda, batalhando pelos próprios sonhos e pela conquista da qualidade de vida. 


“Participar do Festival Sou Maré me leva para um lugar de emoção, de nostalgia também, porque eu já participei de momentos em espaços inimagináveis para mim. Espaços como a Bienal do Livro aqui do Rio, como a Feira Literária Internacional de Paraty, como a Festa Literária das Periferias, agora chegando a Expo Favela também. Mas você participar de uma mesa com pessoas que são daqui (da Maré), que cresceram no mesmo lugar que você, de formas diferentes, contextos diferentes, e que eu admiro e me inspiro muito também, não tem preço, não tem palavras que descrevam (…) a gente está aqui fazendo com os nossos, estando juntos, aquilombados. Então, isso só mostra que por mais que algumas portas não se abram pra gente, a gente constrói essas portas pra gente poder abrir e permitir que outras pessoas abram também”. — Math de Araújo

Math de Araújo no lançamento de seu segundo livro. Foto: Ana Cristina da Silva.
Math de Araújo no lançamento de seu segundo livro. Foto: Ana Cristina da Silva.


Em sequência, o evento contou com a apresentação de uma cena teatral construída a partir da linguagem do Teatro Jornal de Augusto Boal, montada pelos alunos da Escola de Teatro Popular (ETP) do núcleo da Maré. Em seguida, o público se impressionou com a apresentação circense de Vinícius Guedes que com muito carisma — e algumas piruetas — realizou malabares. E houve ainda a firme presença do Entre Lugares, que reapresentou duas cenas da 12ª edição do festival Maré em Cena: Antígona e Arena Conta Zumbi. Para levantar o astral do público, o grupo Dance Maré também performou ao som de diferentes hits no galpão do Museu.

Da metade para o fim do evento, outras duas performances aconteceram: A Tecelã do Mundo, com Flávio Vidaurre e Diferença e Repetição: Outra Coisa, com Ítala Isis. Diferente das demais, A Tecelã do Mundo aconteceu de forma simultânea às demais atrações do evento, onde o público era convidado a entrar em uma pequena sala, um de cada vez, para assistir a performance que acabava e em seguida recomeçava, de forma contínua. Por outro lado, a performance “Diferença e Repetição: Outra Coisa”, atraiu o público para a galeria e foi a atração que abriu a nova exposição temporária do Museu da Maré, a primeira do Atelier Popular de Arte da Maré.


Arena Conta Zumbi foi uma das cenas apresentadas durante o festival. Foto: Ana Cristina da Silva.
Arena Conta Zumbi foi uma das cenas apresentadas durante o festival. Foto: Ana Cristina da Silva.

Disponível até o dia 19 de novembro, a exposição do atelier apresenta o trabalho dos integrantes do projeto através de gravuras em relevo, pinturas, esculturas e objetos que registram memórias mareenses e histórias vistas no livro Contos e Lendas da Maré.

Para Miguel Furtado, integrante do Entre Lugares que foi ao evento prestigiar os colegas de projeto, ele foi surpreendido: “O que eu mais gostei é o senso de coletividade. Tu pode ver que todas as pessoas se ajudam, tem várias cenas de pessoas diferentes que não necessariamente se conhecem, tem várias comidas diferentes, e todas as pessoas aqui trabalham como um coletivo pro bem da sociedade”.


A exposição do Atelier Popular de Arte da Maré estará disponível para visita até o dia 19 de novembro. Foto: Ana Cristina da Silva.
A exposição do Atelier Popular de Arte da Maré estará disponível para visita até o dia 19 de novembro. Foto: Ana Cristina da Silva.

Ao fim do evento, que ainda contava com público mesmo após o encerramento das atrações, Matheus Frazão disse estar satisfeito com o resultado, destacando ainda a vontade de dar continuidade ao festival nos próximos anos:

“Foi um festival muito bonito e eu acho que é isso. A gente tem uma militância às vezes que é muito combativa, porque a gente vai sempre falar muito da violência que tem no espaço da Maré, mas a violência ela é um trecho do percurso, ela não é um todo. Em essência, a Maré não é violência, porque quando a gente vai pensar na construção desse território na década de 40, a gente vai ver que ela é muito mais construções de afetos, de histórias e de narrativas que se cruzam do que qualquer outra coisa. Então, eu estou feliz e até confesso que ansioso para o ano de 2026”.

 
 
 

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