Em “retorno”, Sarau do CPV resgata a nostalgia dos anos 2000
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Texto e foto de capa por Christóvão Carvalho, publicado originalmente no Jornal O Cidadão
No último dia 11 de outubro, o Curso Pré-Vestibular (CPV) realizou a mais nova edição do tradicional sarau do CEASM. Com a temática dos anos 2000, o encontro marcou o “Retorno” após um longo período desde a última edição e contou com exposições, apresentações artísticas, comida, bebida e muita música.
O evento, que anos atrás acontecia várias vezes por ano e teve uma pausa durante a pandemia, passou por um período de reformulação, de modo que este é o primeiro de 2025. Além da dedicação de educadores e educadoras do curso, pode-se destacar a colaboração ativa de alunos do projeto, do pré ao pós-evento.
Internamente, as coordenadoras do CPV, Nlaisa Luciano e Stephanie Marques, levaram a ideia de uma nova edição para a sala de aula, de onde surgiram as primeiras sugestões dos alunos. “Alguns educandos trouxeram a questão do Furacão 2000”, explica Stephanie. “A Nlaisa propôs, junto com uma outra aluna, que fosse um sarau que de alguma forma rememorasse os outros que já tinham acontecido. E aí, veio o título: Sarau do Retorno”, completa.
Antes mesmo de acontecer, o Sarau do Retorno – Edição Anos 2000 já estava entre nós. Isso porque o CPV fez o anúncio oficial pelas redes sociais. Ainda nas plataformas, nos dias que o antecederam, o evento recebeu ampla divulgação. Com posts temáticos e referências nostálgicas dentro do tema, o público recebeu uma pequena prévia do que estaria por vir, deixando um clima todo especial para esta volta.
Dia 11 de Outubro… de 2000
No mesmo dia do sarau, mais cedo, o Museu realizou o Sou Maré: 1º Festival das Resistências e Diversidades Mareenses, uma verdadeira celebração ao povo mareense e às diversas expressões de resistência e diversidade que existem na favela.
Chegando à noite, subindo o morro do Timbau, às 19h, o CEASM recebeu um portal direto para os anos 2000. A entrada estava enfeitada com um varal de fitas metalizadas e balões.
No interior, o pátio foi coberto com lonas, havia varais com fotos gigantes em tecido, luzes coloridas e DJ com um repertório de músicas da época. Uma excelente recepção para os convidados, que puderam aproveitar o espaço como pista de dança.
Ainda na área externa, o público teve fácil acesso ao caixa e à cozinha, com opções de doces famosos da época, mas também outras comidas e bebidas.Já no segundo andar, uma sala foi destinada especialmente para as obras da exposição. Outra, recebeu uma ambientação personalizada de clima retrô, com CDs pendurados por toda a sala, um mosaico de imagens com diversas referências e um cantinho com sofá, televisão de tubo e mesinha de centro, que combinavam totalmente com o tema.
Stephanie exalta o engajamento dos alunos com a organização do evento: “As propostas, as ideias, as listas de materiais… tudo foi feito pelos alunos. Eu e a Nlaisa ficamos nessa função da compra e de darmos algumas pequenas orientações. Mas ao longo de todo o processo, eles foram protagonistas”. O match aconteceu quando os convidados começaram a chegar vestidos a caráter, e trouxeram ainda mais a sensação de viagem no tempo. Mais uma ideia advinda dos alunos.

Ainda sobre o engajamento, Stephanie destaca as mudanças de comportamento nos alunos tanto antes quanto após o Sarau: “A gente conseguiu estabelecer dinâmicas, no decorrer do processo que envolveu o Sarau, em que eles puderam ter protagonismo, desenvolver a autonomia deles, o trabalho em equipe, a cooperação. E isso, na minha percepção, gerou uma maior integração e coesão entre a turma. Geralmente tem os grupinhos e afinidades, e aí depois do Sarau a gente percebeu que os diferentes grupos estão mais próximos”.
A exposição
Ao todo, seis artistas foram convidados a mostrarem seus trabalhos para a exposição. São eles:
Raysa Castro, com a fotografia em tecido Cabeça nas nuvens, pés no Morro;
Reni Vigna, apresentando máscaras e moldes de rosto, feitos com diferentes materiais e técnicas aplicadas;
Arteviana, com fotografias estampadas em pipas e um quadro com fotografia, da série Voa, cria!;
Marco Brendon, com as fotografias Lugares por onde passei;
Adreyna Pereira, com as telas É RUIZ e Caju;
e Affonso Dalua, que apresentou três fotografias em tecido: uma da série TIO SEREIA – AS ÁGUAS DE UMA BAIA DE ENCANTAMENTO, uma nomeada como EU SOU UMA CONSTELAÇÃO e uma da série CORPA FESTA – O MOVIMENTO DAS LAJES.
Este último expôs de forma especial, já que os tecidos com suas fotografias eram enormes. Assim, as obras foram estendidas no pátio, dando ainda mais contraste ao tema festivo.

Artistas surgem no Sarau
Para alguns dos artistas, estar nesse dia é sinônimo de retornar. Não só pela volta dessa organização, mas retornar ao CEASM também. Nesse caso, a artista Reni Vigna (26) já foi aluna do CPV e participou de outros saraus. Mas essa edição se mostrou especial pelo convite que recebeu para estar ali.
Estudante de cenografia e indumentária, ela conheceu e se aprofundou em matérias de adereços, que trabalhavam com moldes de rosto e confecção de máscaras. Na exposição, seis máscaras foram apresentadas. Todas com características próprias: “essas três primeiras aqui são do mesmo material, que é fibra de vidro”. E o exemplo de uma outra: “Ela é feita de papel e tela escócia por dentro. E por fora, ela é de massa corrida. Então ela é mais firmezinha, mais resistente. E aí, a parte dos bigodes, elas são feitas de novelo e cola”.
Tudo se torna ainda mais especial para ela principalmente por ser sua primeira vez em exposição, que mesmo sem ideias pontuais, acabou levando um pouco do que aprende na faculdade para a instituição. “Quando eu fui chamada, eu falei assim, ‘meu Deus, eu não tenho material aqui’, aí depois eu… ‘não, peraí, eu tenho material, sim’. Aí comecei a pensar nas coisas aí, trouxe tudo, tanto que essa parte dos bigodes e eu fiz ontem mesmo pra poder trazer.”

Quem também esteve em sua primeira aparição artística foi Marco Brendon (26). Músico e fotógrafo, ele recebeu um chamado da gestora do projeto CPV, Nlaisa Luciano, e aceitou o desafio levando doze fotos para o público. “Esse convite veio da Nlaisa e eu fiquei pensando ‘O que eu vou fazer? Que tipo de foto eu vou fazer? Qual é o tema?’ E aí, foi vindo naturalmente o tema, Lugares por onde passei, e aí eu fui pensando nessas fotos do meu dia a dia, eu tenho fotos que eu fiz com celular, com câmera… e aí eu fui escolhendo as fotos de acordo com o que eu achava esteticamente bonito e agradável visualmente, de acordo com o nome do projeto”.

Novas obras de nomes conhecidos
Também com um espaço entre os expositores, Andreyna Pereira (25) já esteve em evidência no Museu da Maré e no próprio sarau. Dessa vez, ela retorna ao espaço com duas obras, sendo uma delas inspirada em um álbum musical: “Caju foi um presente que eu fiz pra uma amiga minha, que ela gosta muito da Liniker e eu também queria experimentar novas técnicas com óleo e tal, e consegui chegar num resultado bacana”.
E a segunda: “É RUIZ, é inspirada numa foto de um amigo meu. A gente tava bebendo e eu gosto de fazer essa ambientação dos lugares que a gente está e a movimentação de som ao redor.”
E mesmo tendo experiência em outros espaços, inclusive em sua faculdade, ela comenta a sensação de mostrar seu trabalho dentro da Maré e rever amigos do território: “É sempre muito gostoso colocar os meus quadros aqui, expor e, também, ver o quanto eu evoluí tecnicamente. Mas eu acho que a melhor sensação que eu tenho é de prestigiar os meus amigos, né? Estar ao lado de pessoas que cresceram comigo e ver até onde eles chegaram também. Enfim, é bem emocionante”.

Vanessa Américo (40) é mais uma entre os artistas visuais do evento. Psicóloga e estudante de pintura, ela também já apareceu no Museu, com a exposição AMARÉSONHAR. Na época, ela foi responsável por uma pipa com rabiola feita de centenas de tiras de papel com sonhos de moradores da Maré.
Dessa vez, Vanessa resolveu utilizar materiais relacionados à periferia como sua “tela em branco”, como as telhas, que são comuns na favela e ao mesmo tempo remetem ao acolhimento, e a tela em madeira, fazendo alusão às palafitas.
Para compor a terceira obra, novas tiras com sonhos são um dos elementos. “A mala é de papelão e ela traz a bagagem, que tem a colagem do lado de fora sobre manchetes violentas, inclusive do Jornal O Cidadão, e dentro ela tem os sonhos e a pintura. É um autorretrato com a favela de fundo”.

As apresentações
De volta à área externa, outros talentos também se expressaram. Dessa vez, por meio da voz, da música e da dança. Entre rimas, cantos e movimentos, o microfone esteve aberto para quem quisesse se manifestar, como fez Kátia Deusa ao apresentar seu slam. Mas ao longo da noite, a programação de convidados também seguiu, com nomes como: Allya; BBLt8; Canário Negro; DetonaCry; Evy; MTS Aka Flow Br; Madiba; Math de Araújo; Nihil; e Suzetty.

Dando início aos trabalhos, Math de Araújo e Nihil dividiram espaço para uma colaboração poética. O primeiro é escritor, poeta e comunicador, enquanto o outro é rapper e poeta. Nesse dueto, versos sobre amor e favela foram alguns dos destaques.

Rumo a Ouro Preto
O Sarau do Retorno, o primeiro para vários dos alunos presentes, mostrou que, mais do que uma celebração nostálgica, o reencontro com os anos 2000 foi também um momento de memória, expressão e celebração da juventude hoje ativa no território.
O sucesso do evento também é certeza de um outro momento, muito esperado pelos alunos e corpo de educadores, que é a aula de campo em Ouro Preto. A arrecadação no Sarau é necessária para a viabilização do transporte e demais custos da viagem. Realizada como uma tradição anual, a viagem proporciona aos estudantes conhecimentos sobre História, Geografia, Biologia, entre outras disciplinas, além dos momentos especiais de interação e contato com outra cultura. A equipe se organiza para ter a aula de Ouro Preto ainda em 2025.
Veja mais fotos por Christóvão Carvalho no site do Jornal O Cidadão








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