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121 vidas perdidas na Operação Contenção: iniciativas acolhem afetados pela tragédia

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    contatoekloos
  • há 5 dias
  • 5 min de leitura

Foto de capa: Fernando Frazão/Agência Brasil


A “Operação Contenção”, realizada no dia 28 de outubro nos Complexos do Alemão e da Penha, deixou ao menos 121 mortos e se tornou a ação policial mais letal da história do Brasil. O dia foi marcado pelo medo que se espalhou por todo o Rio e pela paralisação da cidade. Posteriormente, denúncias de violações de direitos humanos foram feitas por moradores e organizações nacionais e internacionais.


O dia narrado

No dia 28 de outubro, terça-feira, o Rio de Janeiro foi palco da megaoperação policial denominada “Operação Contenção”, nos Complexos do Alemão e da Penha. Cerca de 2500 agentes das polícias Civil e Militar foram mobilizados.

Ao longo do dia, os efeitos foram sentidos por toda a cidade. O fechamento de vias importantes, como a Linha Amarela e Linha Vermelha, além de ônibus obstruindo regiões como a Lapa e a estrada Niterói-Manilha dificultou os acessos.

O Centro de Operações e Resiliência da Prefeitura do Rio de Janeiro informou que o município entrou em estágio 2 de atenção. A insegurança tomou conta da população. Trabalhadores foram dispensados mais cedo, comércios fecharam antes da hora, aulas foram suspensas e, com todo esse cenário, multidões se formaram para utilizar o transporte público.


Na Central do Brasil, pessoas se aglomeraram na espera dos ônibus. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.
Na Central do Brasil, pessoas se aglomeraram na espera dos ônibus. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Entre eles, moradores dos complexos se viram em situação ainda mais caótica, pois além da dificuldade para voltar para casa, muitos precisaram fazer percursos a pé, mesmo sem saber como e se poderiam voltar.

As redes sociais foram tomadas por fotos, vídeos e relatos da violência não só entre policiais e bandidos, mas de moradores que tiveram suas casas invadidas e a segurança violada pelos agentes da lei.


Moradora mostra cápsulas de balas encontradas em sua casa. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.
Moradora mostra cápsulas de balas encontradas em sua casa. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.

Após várias horas, à noite, a operação foi oficialmente encerrada. Pelo caminho, paredes fuziladas, sangue e uma contabilização oficial, inicialmente, de 64 mortos foi apenas o começo da percepção dos danos e traumas causados.

Na Penha, moradores adentraram a mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, em busca de sobreviventes. A área é onde teriam ocorrido os confrontos mais intensos da operação. Dali, outras dezenas de corpos foram “achados”.


Detalhes da operação e o que disse Cláudio Castro

A ação foi resultado de dois meses de planejamento, em que a polícia forçaria a entrada dos membros de uma organização criminosa para a mata, onde ficariam encurralados. Diversos batalhões se posicionaram nos acessos das favelas. Dos 2500 policiais, quatro baixas foram confirmadas. Oficialmente, 113 pessoas foram presas, havendo também apreensão de armas, drogas e munições.

Em pronunciamento, o Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, detalhou que a operação tinha como objetivo cumprir 100 mandados de prisão para “conter a expansão do Comando Vermelho” e destacou o resultado como um sucesso: “De vítima ontem lá, só tivemos os policiais.”


Sem precedentes

Ainda na Penha, à medida que amanhecia, a atenção geral estava focada na Praça São Lucas. A todo instante, mais e mais corpos eram trazidos e colocados lado a lado no chão. Dos 64 divulgados oficialmente, após revisão, o saldo foi para 121 mortos. Esse número fez a Operação Contenção superar o Massacre do Carandiru e se tornar a ação policial mais letal da história do Brasil.

Uma aglomeração de moradores, amigos e familiares se esforçou a identificar e lamentar os mortos. Até então, sem confirmação de que todas essas pessoas tenham participado da operação ou apresentado ameaça. O que chamou a atenção foram os sinais de ferimentos identificados por moradores como “incompatíveis” com uma troca de tiros envolvendo policiais. O corpo de um jovem decapitado foi retirado da mata.


Moradores se aglomeraram para reconhecer e velar corpos encontrados. Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil.
Moradores se aglomeraram para reconhecer e velar corpos encontrados. Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil.

Em sentimento de revolta, as populações dos complexos realizaram protestos no Palácio Guanabara – onde o Governador se reuniria com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski – e na própria Praça São Lucas.


Ainda na Penha, moradores estenderam tecidos protestando contra os assassinatos. Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil.
Ainda na Penha, moradores estenderam tecidos protestando contra os assassinatos. Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil.

Cartazes e faixas com tinta vermelha foram erguidos, contendo dizeres como: “Estado assassino e genocida, pátria mata Brasil”, “Parar o estado do Rio de Janeiro. Isso que chamam de operação de sucesso?” e “Cláudio Castro: assassino terrorista”.


Órgãos internacionais se manifestam

Entre outras organizações, o Instituto Marielle Franco (IMF) enviou, ainda no dia 28, um ofício assinado denunciando graves violações cometidas na operação à Presidenta e à Secretária Executiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Roberta Clarke e Tania Reneaum, respectivamente.

Além de familiares das vítimas e de ativistas, a operação também tem sido denunciada pela diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, que repudiou as declarações do governador do estado. Em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, ela afirmou: “É preciso dizer que essa operação não é um sucesso. É desastrosa. Qualquer pessoa sabe que assassinato e sucesso não entram na mesma frase. Assassinato de centenas de pessoas. Nós recebemos notícias de milhares de pessoas traumatizadas e que estão sofrendo. Os empreendimentos pararam, as casas destruídas, animais mortos. Como você pode chamar isso de sucesso?”


A chacina revoltou os moradores, que se comprometem a lutar por justiça. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.
A chacina revoltou os moradores, que se comprometem a lutar por justiça. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.

Mecanismos da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA) também receberam encaminhamentos de entidades de direitos humanos. Através de um porta-voz, o secretário-geral da ONU, António Guterres, comunicou o pedido de investigação imediata sobre o ocorrido. “O uso da força em operações policiais deve estar em conformidade com as leis e os padrões internacionais de direitos humanos”, reforçou.


Até o final do dia 30, o IML identificou 100 dos 121 mortos. Destes, 60 foram entregues para sepultamento. Porém, ainda não houve a divulgação pública dos nomes.


Serviços de apoio e acolhimento

Diante das consequências, profissionais e coletivos criaram espaços de escuta e cuidado voltados a familiares e moradores afetados direta e indiretamente pela violência na Operação Contenção. Abaixo, compartilhamos algumas iniciativas de apoio: 


Atendimento Social Gratuito – Danielle Anatólio

A terapeuta Danielle Anatólio está oferecendo sessões gratuitas para pessoas que perderam familiares, amigos ou foram atingidas diretamente pelo genocídio ocorrido no Rio em 28 de outubro. Entre em contato via WhatsApp ou pelo Instagram.


Atendimento Psicológico – Bem Psiquê

O coletivo Bem Psiquê também está oferecendo atendimento psicológico atendimento psicológico emergencial, para residentes das áreas afetadas ou que vivenciaram a operação policial. Entre em contato pelo número: (21) 97585-9000 ou via Instagram.


Arrecadação

Além disso tudo, também é possível ajudar com valor em dinheiro. A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR) está atuando no apoio a mães e familiares nos processos de reconhecimento e identificação das vítimas, e nas primeiras providências de assistências jurídica e psicossocial. A arrecadação está sendo feita através do Fundo Brasil.


Reflexão

Com o passar dos dias, mais detalhes estão surgindo. A ação policial escancarou a fragilidade social e psicológica nas periferias. O Ministério da Justiça e Segurança Pública destacou o episódio como “a maior operação da história do estado”, mas pintou com sangue e destruição o que se tornou a mais letal da história do país. Quem acompanhou as notícias, recebeu um retrato cru da realidade das favelas. A dor, o pânico e a angústia das famílias que perderam entes queridos naquele dia serão para sempre. Se há – qual o impacto positivo sobre isso? E será que valeu a pena? De qualquer forma, o dia 28 de outubro entrou para a história, mas não há o que comemorar.



 
 
 

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