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Museu sedia 23º encontro do FFU

Pré-vestibulares, desafios da permanência na universidade e política de empregabilidade foram alguns assuntos discutidos durante o encontro


Por Ana Cristina da Silva e Carolina Vaz | Publicado originalmente no Jornal O Cidadão

No último sábado (19), o Museu da Maré recebeu mais de 30 pessoas para o 23º encontro do Fórum Favela Universidade, onde representantes da Cooperação Social da Fiocruz, CEASM, Rede CCAP de Manguinhos e do Projeto Tecendo Diálogos debateram sobre o acesso, a permanência e a produção do jovem de favela na universidade. Na roda, pesquisadores, historiadores e educadores tiveram momentos de reflexão e troca acerca do tema escolhido para o segundo encontro do ano de 2022: quais caminhos levam os favelados à universidade e a universidade à favela?


Dentre tantos assuntos postos em pauta durante o encontro, um que se torna inevitável é o da atuação dos pré-vestibulares nas favelas. Para Antônio Carlos, um dos fundadores do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), os pré-vestibulares têm um protagonismo que vai muito além do acesso, da luta pelas cotas e da democratização da universidade, “os pré-vestibulares tem um papel muito importante que é o de formar consciência crítica no jovem. Você traz o jovem e ele não tem uma perspectiva de vida, ele ainda tem um olhar muito conformado com a realidade que vive, e o pré-vestibular vai formando cidadãos conscientes, então esse trabalho precisava ser fortalecido”. Já sobre a permanência do jovem na universidade, Antônio Carlos ressalta a importância de se observar não só questões de financiamento, mas também questões psicológicas porque “a gente acha que tudo é uma maravilha e as vezes a gente se frustra e se decepciona”, conclui.


Antônio Carlos Vieira (Camisa Branca): “o pré-vestibular forma consciência crítica no jovem”. Foto: Ana Cristina da Silva.

A política de empregabilidade é totalmente descompassada


Pensando também nas problemáticas em torno do tema, André Lima, do Conselho Comunitário de Manguinhos, ressaltou a desigualdade muito comum nas universidades: “nossos colegas da classe média que estavam na universidade são alocados em bons empregos e vão fazer pós-doutorado no exterior numa certa facilidade. Nós, que somos da favela, não temos e não identificamos essa possibilidade”. André Lima propôs então que o Fórum começasse a pensar no universitário como alguém que enfrenta dificuldades ao entrar e permanecer na universidade, mas também ao deixar aquele espaço com um diploma embaixo do braço. “Às vezes você chega na Casa & Vídeo, na Casas Bahia, e você vê um colega seu de bacharelado e licenciatura que estudou muito e tá sendo subvalorizado ali naquele emprego, ainda que seja um emprego digno, mas por que ele está ali e o filho da classe média está em um trabalho por indicação que paga bem?”, questiona.


André Lima levantou debate sobre empregabilidade após graduação. Foto: Ana Cristina da Silva.

“Tendo a formação, a informação e a argumentação, você vai até mais longe naquilo que você deseja e almeja.”


Pensando nos próximos encontros, a coordenadora do Espaço Casa Viva em Manguinhos, Elizabeth Campos, propôs que o grupo ali reunido pensasse nas questões e dificuldades enfrentadas por aqueles que, apesar de terem o interesse, não tem uma condição de chegada às universidades, onde muitas das vezes eles sequer se enxergam naquele lugar. “A gente deve pensar nos argumentos e estratégias para aproximar os nossos. Não precisa estar na universidade, só precisa estar nesse lugar de militância, porque a partir daí vão compreender a importância das suas vivências”, conclui.


Elizabeth Campos (vestido preto) falou sobre os obstáculos que jovens enfrentam para almejar a universidade. Foto: Ana Cristina da Silva.

Com muitas questões, problemáticas e sugestões a serem avaliadas, o Fórum Favela Universidade se encerrou após abordar diversos outros assuntos como os problemas da pandemia que, segundo Rachel Vianna, Pesquisadora de pós-doutorado da Casa Oswaldo Cruz, “tirou dos jovens o direito ao sonho”, devido a chegada do ensino remoto que trouxe diversas defasagens. Muito foi abordado também sobre o que já havia sido feito até o dado momento: “no ano passado fizemos a primeira Jornada Científica visando dar visibilidade daqueles que estavam na universidade e que têm origem popular em favela e periferia e, também, daqueles que estavam vinculados à organizações de territórios de favelas e periferias, mas o objetivo não era apresentar um projeto social, era apresentar uma modalidade de produção de conhecimento”, explicou André Lima. Dentre diversas sugestões, uma delas partiu de Victória Alves do coletivo Raízes da Mata ao mencionar a importância de se falar sobre racismo ambiental e de como isso seria interessante na Jornada Científica.


Fórum Favela Universidade


O Fórum Favela Universidade faz parte do projeto Tecendo Diálogos, e é fruto de uma primeira roda de conversa, em dezembro de 2018 no Museu da Maré, entre universitários, representantes da Pró-reitoria de Extensão da UFRJ e da Cooperação Social da Fiocruz, Rede CCAP de Manguinhos, além de educadores do CEASM. A partir dessa primeira conversa sobre os desafios e possibilidades da vivência de faveladas e favelados na universidade, outras reuniões se sucederam e nasceu o Fórum. Nele se reúnem estudantes e egressos de instituições de ensino superior e pré-vestibulares comunitários, na intenção de debater temas pertinentes a suas realidades, e lançando esse olhar da favela sobre a ciência e tecnologia, mercado de trabalho e saúde mental.


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