Por Carolina Vaz
No dia 13 de dezembro, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) pôde voltar a receber uma homenagem presencial, pela primeira vez em dois anos. A instituição recebeu a Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos 2021 concedida pelo Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN). O evento aconteceu na Fiocruz e homenageou dezenas de entidades, institiuições, pesquisadores, militantes, profissionais da saúde, e teve a apresentação de Simone Braga, jornalista da Rio TV Câmara.
Na cerimônia de abertura, a presidenta da Asfoc-SN Mychelle Alves leu uma saudação da Diretoria Executiva Nacional da Asfoc para o público. Na fala, manifestou irrestrita solidariedade a todas as vítimas da Covid-19 e expressou uma crítica à condução da pandemia pelo Estado: "Foram mais de 600 mil mortes, uma grande parte delas decorrente do negacionismo e da facilitação da circulação do vírus em nosso território", denunciou. Alves ainda falou sobre a iminência de crises que se acumularão, como se está vivendo atualmente no país, e destacou a necessidade de um novo pacto mundial para reduzir assimetrias. Por fim, falou sobre se valorizar iniciativas individuais e coletivas que fazem avançar a solidariedade, a cultura, o conhecimento científico.
Além de Mychelle Alves, também compuseram a mesa: Lucia Souto, presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES); Ana Tereza Ribeiro de Vasconcellos, professora e pesquisadora, representando a diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Paulo Garrido, membro da coordenação da associação Vida e Justiça, que defende as vítimas da Covid-19 e seus familiares; Fernando Pigato, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); e Valcler Rangel, coordenador de relações institucionais da Fiocruz, representando a presidenta da fundação Nísia Trindade Lima. Além de Rosana Onocko, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), que enviou um vídeo marcando sua participação na mesa. Os componentes da mesa homenagearam as vítimas da Covid, elogiaram o trabalho da Fiocruz e destacaram a importância da união de forças no combate a pandemia, tanto no que se viveu até agora quanto no futuro próximo.
Em memória de Sérgio Arouca e Jorge Careli
Antes de iniciar a convocação dos homenageados, a apresentadora descreveu breves biografias de Sérgio Arouca e Jorge Careli. Sérgio Arouca foi presidente da Fiocruz em 1985, logo após a redemocratização do país, criando espaços de democracia dentro da fundação, e também se tornou uma referência na reforma sanitária e na construção do SUS. O prêmio foi criado em 2004. Já Jorge Careli foi um servidor da Fiocruz preso por engano em 1993 por policiais da Divisão Anti-sequestro, na favela da Varginha, em Manguinhos, e nunca mais foi visto. A fundação passou anos cobrando o Estado por seu desaparecimento, mas apenas em 2012 foi declarada sua morte presumida. A medalha existe desde 2001 e se destina aos que se destacam na defesa dos direitos humanos.
O prêmio Sérgio Arouca foi entregue a nomes diversos: instituições, movimentos, coletivos, profissionais da saúde, pesquisadoras/es, parlamentares e governador, sindicatos, entidades de classe, associações. Um deles foi a Frente de Mobilização da Maré, representada por Gizele Martins, que destacou a união de comunicadoras/es comunitárias/os da Maré desde o início da pandemia de modo a passar as mensagens de prevenção por todos os meios possíveis e considerando as privações da população mareense para acessar água, ficar em casa e seguir demais recomendações sanitárias. Ela ressaltou ainda a solidariedade que foi estimulada: "A nossa principal mensagem era: quem tem água divide; quem tem comida divide; quem tem remédio divide; quem tem carro para carregar alguém doente para o hospital divide".
Medalha Jorge Careli e a homenagem ao CEASM e o FPVP-RJ
A medalha Jorge Careli foi entregue, inicialmente, a duas irmãs de Jorge Careli presentes: Lucia Helena Careli e Selma Careli. Após, o primeiro coletivo homenageado foi o Fórum de Pré-vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ), que foi representado por Julah Nascimento, do Pré-vestibular Popular do Cerro Corá, e Lourrane Cardoso dos Santos, coordenadora de pré-vestibular popular em Jacarepaguá. Elas falaram sobre a importância da união dos prés para ações de solidariedade durante a pandemia, observando as necessidades das pessoas atendidas, e da troca de experiências que ajuda a lidar com a violência do Estado no cotidiano. "A gente segue lutando, segue resistindo e em 2022, na luta e na rua a gente se encontra", finalizou Lourrane Cardoso.
A medalha destinada ao CEASM foi recebida pela coordenadora do Museu da Maré Cláudia Rose, que destacou o trabalho realizado em parceria com a Frente Maré no primeiro ano de pandemia: “As pessoas se uniram para fazer campanha, para informar as pessoas, e a gente fez isso tudo voluntariamente. O CEASM nesse momento teve que abrir as suas portas, o Museu foi o local que recebeu as doações e de lá saíam várias vans diariamente para entrega, a gente entregava mensalmente 3 mil cestas básicas e kits de higiene”. Foi a uma dessas voluntárias que ela dedicou a medalha: Denise Rocha, que foi educanda do CPV-CEASM, depois coordenou o projeto, formou-se assistente social e, no final de 2019, assumiu a coordenação do CRAS Nelson Mandela. Ela faleceu em abril de 2020, vítima da Covid. A segunda pessoa a quem se dedicou a medalha foi Seu Atanásio Amorim: maranhense que veio para a Maré nos anos 1960 e se tornou, além de alfaiate, um líder comunitário, sendo presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro. “Pessoa fundamental na construção do Museu, que contribuiu enormemente com as histórias e os acervos que estão presentes no Museu”, descreveu Cláudia. Seu Atanásio também faleceu em abril de 2020. Por fim, a coordenadora do Museu convidou a se levantarem as equipes do CEASM e membros da Frente Maré presentes, que foram aplaudidos.
A lista completa de homenageadas/os do evento pode ser vista no site da Asfoc.
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