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TODO FILHO VINGARÁ: os caminhos da Cia Cria do Beco

Grupo teatral arrecada para sua estreia pelo PIX producaonemtodofilhovinga@gmail.com

Por Ana Cristina da Silva, adaptado da matéria original no Jornal O Cidadão


Tudo começou em 2019 com uma esquete de 15 minutos chamada “Nem Todo Filho Vinga”, que fez com que a Cria do Beco fosse o primeiro grupo favelado a ganhar o Festival Universitário (FESTU). Com a ajuda do patrocínio recebido pelo festival, “Nem Todo Filho Vinga” teve alterações no roteiro e se transformou em peça teatral, mas teve a sua estreia cancelada um dia antes, devido à pandemia no início de 2020. Agora, em 2022, a Cria do Beco, que levantou uma campanha de arrecadação, mostra toda sua resiliência e determinação ao seguir com ensaios constantes para a reestreia do espetáculo, realizada no dia 12 de março no Museu da Maré.


A origem do espetáculo “Nem Todo Filho Vinga”


A Cia Cria do Beco é formada por 7 jovens, todos moradores do Conjunto de Favelas da Maré, que se conheceram e viraram amigos através do projeto teatral Entre Lugares, no Museu da Maré. Ao chamarem Renata Tavares como diretora e Pedro Emanuel como dramaturgo, eles se uniram com o propósito de elaborar uma cena para a 9ª edição do Festival Universitário (FESTU) em 2019. A cena que, na época, tinha 16 minutos, carregou o nome de “Nem Todo Filho Vinga”, baseada no conto “Pai Contra Mãe”, do escritor Machado de Assis, e garantiu a vitória nas categorias de melhor esquete e melhor cenografia. Para Jefferson Melo, intérprete do protagonista Maicon, a ideia, desde o início, era combinar a obra de 1906 com a narrativa e as experiências vividas pelo próprio elenco: “a gente queria falar da gente, falar da nossa história, falar do nosso dia a dia, da nossa galera, e a gente desenvolve uma dramaturgia em cima disso”, afirma o ator de 26 anos.


Em seu conto “Pai Contra Mãe” publicado em 1906, Machado de Assis fez uma leitura social dentro do contexto socioeconômico do Brasil daquela época. “Nem Todo Filho Vinga”, agora como peça, segue firme com essa proposta de questionamento e reflexão, mas direciona isso para a realidade vivida na favela dos dias atuais, abordando temas como o acesso de jovens periféricos à universidade, racismo e até as operações policiais que acontecem repentinamente dentro das favelas. Para Natália Brambila, que interpreta Carla, as pautas apresentadas são extremamente necessárias: “A maioria das coisas que a gente passa aqui nesse espetáculo são coisas que estão na nossa realidade. É uma dramaturgia coletiva, então nós trouxemos a nossa vivência, e às vezes tem coisa que retornar e viver de novo é bem doloroso. Mas também é bem importante porque a gente sente que precisa mostrar isso para a galera que não vive nessa realidade. A galera que não olha pra favela, não enxerga esse dia a dia das coisas que a gente passa aqui”, declara a atriz.

Renata Tavares cuida da encenação do espetáculo. Foto: Ana Cristina da Silva.

Impactos da pandemia


No final de 2019, quando “Nem Todo Filho Vinga” ganhou a 9ª edição do Festival Universitário (FESTU), a Cia Cria do Beco recebeu um patrocínio de 30 mil reais para montar e apresentar o espetáculo, tal como garantiu sua participação no Festival de Teatro de Curitiba. Em 2020 o dinheiro do patrocínio foi sendo usado para as necessidades gerais, que envolviam tanto a montagem quanto os ensaios do espetáculo. Tudo teria dado certo se o ano fosse outro. Afinal, faltando um dia para a estreia do espetáculo ocorreu o ápice da pandemia ocasionada pela Covid-19 e, com o isolamento social, a estreia teve que ser cancelada, assim como o festival de Curitiba já havia sido.

A Cia Cria do Beco foi o primeiro grupo de favela a vencer o FESTU. Foto: reprodução.

Foram três cancelamentos ao longo desses dois últimos anos de pandemia. Sendo assim, o elenco se dedicou a aprimorar o texto. “Todo mundo que passou a pandemia dentro da favela passou por situações muito críticas que fizeram a gente chegar a lugares muito diferentes. Foi doença, foi tiro, foi fome, o preço das coisas altíssimo. Tudo isso mudou muito o nosso corpo, a nossa narrativa, a nossa mentalidade”, diz Natália. Casos como o de George Floyd e a perceptível falta de investimento do governo na favela fizeram com que as pautas presentes na peça passassem por uma transformação. Para o integrante Ramires Rodrigues, que dá vida ao personagem Carlão, isso ressalta um dos poderes do espetáculo: “a história é inspirada no conto do Machado, que é do século XIX, mas ao mesmo tempo é muito atual. Essas feridas no país, essas desigualdades, elas estão abertas até hoje. A gente fez essa atualização da pandemia, mas é uma história que acontece todos os dias ainda, sabe?”, declara o ator.

Jefferson Melo (à esquerda) e Ramires Rodrigues interpretam dois amigos em conflito. Foto: Ana Cristina da Silva.

Ensaios e campanha de arrecadação

Acontecendo desde dezembro do ano passado (2021) no Museu da Maré, os ensaios para o espetáculo são constantes e intensivos. De acordo com os integrantes Jefferson Melo e Gabriel Medeiros da Silva, que atende pelo nome artístico de Zaratustra, eles ensaiam a peça inteira todos os dias, de segunda a sábado, de 18h às 23h, às vezes chegando a ficar o dia todo durante os sábados. Porém, a troca de ideias e percepções é imprescindível. “Não basta a gente só pegar as coisas e simplesmente falar e reproduzir, porque são coisas nossas, coisas que a gente vive. Então acho que a gente também troca muito sobre como aquilo pode chegar nas outras pessoas. Acho que isso é importante. Não é só como a gente vai falar, mas como a plateia vai receber também”, destaca Zaratustra, de 23 anos.

E como, em 2020, a Cria do Beco utilizou o dinheiro recebido no FESTU para pagar a equipe e montar o espetáculo, que teve de ser cancelado devido à pandemia, o elenco segue agora com uma campanha de arrecadação para conseguir arcar com custos de passagem, alimentação e de montagem do espetáculo da melhor forma possível. Você pode ajudar fazendo a doação de qualquer valor via pix para a chave: producaonemtodofilhovinga@gmail.com


Nem Todo Filho Vinga


Apresentações nos dias 19, 20, 26 e 27 de março, e dias 02 e 03 de abril.

Horário: 19h30

Local: Museu da Maré – Av. Guilherme Maxwell, nº 26, Maré, RJ. Entrada pela Avenida Brasil, passarela 7, sentido Zona Oeste.

Terá ingressos limitados e será obrigatória a apresentação de comprovante de vacinação, além do uso de máscara. Ingressos deverão ser retirados na manhã de cada dia do espetáculo pelo Sympla

Acompanhe pelas redes sociais: instagram.com/nemtodofilhovinga


Ficha técnica:


Elenco: Anderson Oli, Camila Moura, Jefferson Melo, Natália Brambila, Ramires Rodrigues, Yuri Domingues (sub) e Zaratustra

Encenação: Renata Tavares

Dramaturgia: Pedro Emanuel com colaboração da Cia Cria do Beco

Direção Musical: Renata Tavares e Zaratustra

Preparação Corporal e Movimento: Gabriela Luiz

Figurino: Tiago Ribeiro

Equipe de Iluminação: João Gioia, Lucas da Silva e Raimundo Pedro

Cenografia e Arte Gráfica: Flávio Vidaurre

Fotografia: Thiago dos Santos

Operador de som: Edson Martins

Assessoria de Imprensa: Ana Linhares Isabel Ludgero

Produção: Cia Cria do Beco

Assistente de Produção: Sheilla Cintra

Assistente de Figurino: Lucas de Souza

Assistente de cenografia: Rafael Rougues

Produção e Produção Executiva: Vanessa Greff


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