Por Ana Cristina da Silva – publicado originalmente no Jornal O Cidadão
Foto de destaque: Raysa Castro
Neste mês, às 19h de um sábado (04), o CEASM abriu as portas para um grande público que festejou até a madrugada de domingo com muita música, comida, arte e cultura mareense. O motivo da reunião calorosa foi o já conhecido Sarau do CPV que, organizado pelo curso do Pré-Vestibular do CEASM, carregou o nome de After do Fim do Mundo. A primeira edição pós-pandemia do sarau contou com apresentações de capoeira, Slam, música e até mesmo uma exposição de arte.
Apresentações
Quando os portões do CEASM se abriram para o público no início da noite, comidas e bebidas já estavam sendo vendidas enquanto uma mesa de som reproduzia diferentes músicas para entreter as pessoas que aos poucos iam chegando. No entanto, o pátio da instituição já estava cheio quando as apresentações artísticas começaram. Era por volta das 21h quando o grupo de capoeira Maré de Bamba se colocou de frente para a plateia. Os sete integrantes presentes cantaram canções famosas, como Dandara e Paranauê Paraná, ao som de pandeiros e berimbaus.
Grupo Maré de Bamba foi o primeiro a se apresentar. Foto: Raysa Castro.
No Slam, o primeiro a se apresentar foi Elmer Peres, de 21 anos. Filho de angolanos, Elmer foi criado no Salsa e Merengue, na Maré. Apesar de já ter se apresentado no CEASM com sua antiga banda e com o grupo teatral Entre Lugares, do qual ainda faz parte, o artista seguiu sozinho para apresentar versos que ele mesmo escreveu, abordando um cenário de desigualdade e luta, onde corpos pretos diariamente se encontram. “Na maioria das vezes eu entro pra esse lugar da militância, de falar sobre as mazelas do Estado que incomodam. Acho que essa é a forma que eu tenho de jogar pra fora, pra não ficar sobrecarregado”, explicou o artista ainda muito feliz pela recepção do público.
“Nós lutamos todos os dias contra os olhos que nos condenam. Reivindicamos a cada dia pelo nosso território e direito de fala. Somos todos iguais? Sim… mas até que ponto?”
— Elmer Peres
Elmer Peres durante sua apresentação. Foto: Raysa Castro.
Se apresentando pela primeira vez no CEASM, o pessoal do LADO Records animou a plateia com músicas autorais carregadas de rimas e diferentes beats. O grupo de rap, que existe há cinco anos, é formado por cinco amigos que cresceram na Nova Holanda. “Chamaram a gente dois dias antes do evento. A gente passou algumas músicas, mas não conseguimos ensaiar. A gente veio na expectativa de se divertir, fazer um show maneiro e também de comemorar o lançamento da música Vai Passar que pode ser encontrada no YouTube”, explica Romulo Praga, de 22 anos.
Os versos cantados durante o sarau traziam a realidade dos integrantes para o público que, por diversas vezes, se identificou. Entre uma rima e outra, muito se falava sobre a vida no território periférico e os sonhos de uma vida melhor. Quando perguntados sobre a inspiração para compor as músicas, todos eles tiveram respostas semelhantes. “A minha inspiração vem das minhas dores, do cotidiano, de querer dar uma oportunidade melhor pra família, pros amigos. E querer evoluir a partir disso como pessoa. É muito difícil você muitas vezes querer algo que pra você parece simples, mas tá faltando aquilo no seu bolso, ou na sua vida. Aí a gente procura várias saídas, e a gente procurou na arte”, revela Pit.
Integrantes do grupo LADO Records. Da esquerda para a direita: Pit, Edom, Loan e Romulo Praga. Foto: Ana Cristina da Silva.
A madrugada, no entanto, teve um ponto alto com a apresentação de Evy Souza, que revelou uma voz potente ao cantar desde o pop internacional como Say My Name do grupo Destiny’s Child até a música popular brasileira com Você Me Vira a Cabeça, da cantora Alcione. O público cantou junto e pediu por mais músicas, pedido ao qual foi atendido por Evy. Logo após o seu show, o microfone ficou aberto ao público e lá outros mareenses mostraram seus talentos em forma de versos e poesias.
Evy Souza conquistou a plateia ao cantar diferentes gêneros durante a madrugada. Foto: Jose Bismarck.
Exposição de arte e gastronomia do evento
Chamando a atenção de todos que passavam pelo corredor do segundo andar estava a exposição de arte conduzida por Vivian Oliveira, Arthur Viana e Fabíola Martins. A exposição demonstrava diferentes técnicas, cores e formas. Expostas na parede estavam as pinturas, feitas a partir de diferentes tintas, de Vivian, as diferentes fotos impressas nas pipas de Arthur e o vibrante conjunto de quadros de Fabíola, ao qual ela chamou de “Emergindo do Caos”.
Exposição “Emergindo do Caos”, de Fabíola Martins. Foto: Raysa Castro.
A cantina, por sua vez, foi um dos lugares mais frequentados ao longo da noite graças a sua variedade de comidas e bebidas que puderam atender a todos que estavam presentes. Para a composição do cardápio os organizadores do evento prepararam diferentes comidas, mas também receberam algumas doações, o resultado final foi um cardápio diversificado e de preço acessível com cachorro-quente, pudim, empadão, bolos e caldos. Para o público vegano havia variações especiais como o cachorro-quente, sopa de ervilha e quibe assado, todos preparados sem nenhum tipo de carne.
Conceito do sarau
O Sarau do CPV é um evento muito conhecido entre os moradores da Maré, mas, devido a pandemia, já fazia dois anos desde sua última edição. Chamado de After do Fim do Mundo, este sarau era muito esperado, tanto para os organizadores, quanto para o público. A coordenadora do Pré-Vestibular, Nlaisa Luciano, explica que o tema do evento está relacionado aos dois anos de distanciamento causados pela pandemia: “É pensar a metáfora da pandemia como um evento apocalíptico e ainda assim, ter um after, um after de respiro, de renovação, de estarmos juntes num espaço que nos acolhe, que nos preenche com arte e educação. Não tinha como retornar ao sarau e não pensar nesse tema que foi inspirado, inclusive, na música ‘O After do Fim do Mundo’ da Clarice Falcão e da Linn Da Quebrada”.
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