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Ecoa Maré finaliza atividades de 2023

Por Carolina Vaz, publicado originalmente no Jornal O Cidadão

Foto de capa: Ana Cristina da Silva

Ao longo de 2023, mais de mil crianças mareenses puderam ter contato com informações sobre meio ambiente e educação socioambienta nas escolas da Maré, de forma lúdica. O acesso foi resultado dos oito meses de atuação do projeto Ecoa Maré, do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), que finalizou este período na última terça-feira (29) em Seminário no Museu da Maré.


O Seminário de Encerramento do Ecoa reuniu professoras e diretoras de escolas que receberam as atividades; parentes e amigos dos agentes de promoção socioambiental; equipe do projeto e demais membros de equipes do CEASM. Foi um momento para registrar o retorno desse projeto que teve seu primeiro ciclo entre 2011 e 2017 com o nome EcoRede, e agora, seis anos depois, retornou com novo nome mas a mesma proposta.


Depoimentos sobre o projeto

Para iniciar um evento de consciência ambiental, a equipe realizou uma dinâmica de aproximação entre os presentes. Em roda, a atividade fez com que as pessoas trocassem de lugar à medida em que falavam os nomes de outros, mostrando que havia conexão naquele espaço. Num segundo momento, cada um ali falou o que faz para reduzir seu impacto ambiental no planeta, como utilizar ecobags para reduzir uso de plástico e apagar as luzes da casa.

O primeiro momento foi de troca sobre as ações individuais pelo bem comum. Foto: Ana Cristina da Silva.
O primeiro momento foi de troca sobre as ações individuais pelo bem comum. Foto: Ana Cristina da Silva.

Em seguida, abriu-se um momento de fala. O coordenador do projeto, Guilherme Paiva, falou sobre o retorno do projeto após a pausa desde final de 2017 e a possibilidade de se aplicar a mesma metodologia. Comentou a atuação dos seis agentes de promoção socioambiental: adolescentes entre 15 e 18 anos, moradores da Maré, que a partir das formações recebidas no CEASM planejavam e executavam as ações em escolas de Ensino Infantil e 1º segmento do Fundamental. Confecção de brinquedos com materiais reciclados e esquete teatral foram algumas delas.

Uma das atividades do Ecoa no EDI Pescador Isidoro Duarte. Foto: José Bismarck.
Uma das atividades do Ecoa no EDI Pescador Isidoro Duarte. Foto: José Bismarck.

Estavam presentes no evento representantes de cinco escolas do território: EDI Cremilda da Silva dos Santos; EDI Profª Kelita Faria de Paula; Escola Municipal Lêdo Ivo; EDI Pescador Isidoro Duarte; e Creche Municipal Pescador Albano Rosa. Vários deles deram seus depoimentos, como a professora Ana Paula Silva de Santana, do EDI Pescador Albano Rosa. Localizada na Vila dos Pinheiros, a escola sempre teve problemas com acúmulo de lixo na calçada, e vinha buscando meios de conscientizar a vizinhança sobre isso. O Ecoa chegou como um projeto parceiro, atuando diretamente com os alunos: “Pudemos trabalhar com as crianças, de uma forma lúdica, a questão da sustentabilidade, eles ficaram muito encantados com os brinquedos que puderam experimentar, brincar com os amiguinhos”.

Ana Paula de Santana ressaltou que, em 2024, mais turmas de mais escolas vão precisar das atividades. Foto: Ana Cristina da Silva.
Ana Paula de Santana ressaltou que, em 2024, mais turmas de mais escolas vão precisar das atividades. Foto: Ana Cristina da Silva.

Adriana Romualdo, professora do EDI Pescador Isidoro Duarte, contou que sentiu uma apreensão quando viu os adolescentes chegarem para falar numa turma tão agitada como era a sua, mas que se surpreendeu com a habilidade deles: “Quando eu vi vocês chegando eu pensei ‘meu Deus, um monte de adolescente pra contar história pra essas crianças, vamos ver no que vai dar’. Mas eu quero parabenizar esses adolescentes e dizer que vocês não podem parar, porque eles arrasam”.


Gratidão pela experiência

Mais do que admiração, o evento de finalização do projeto em 2023 gerou muita emoção nos agentes e seus parentes. Um deles foi Richard Batista, que agradeceu toda a equipe do Ecoa e contou que, por morar numa favela mais distante, a Salsa e Merengue, para ele foi mais difícil cumprir com as atividades: “Eu moro longe mas eu persisti, continuei… só quero agradecer vocês. Muito obrigado mesmo, de verdade”. Quem também se emocionou foi Poline Batista, sua mãe, que fez sua inscrição no projeto lá em março sem saber o impacto que teria na vida do filho.

Poline Batista e o filho Richard, agente de promoção socioambiental do Ecoa, emocionaram-se para falar do projeto. Foto: Ana Cristina da Silva.
Poline Batista e o filho Richard, agente de promoção socioambiental do Ecoa, emocionaram-se para falar do projeto. Foto: Ana Cristina da Silva.

“Quando a gente encontra dentro da nossa comunidade um projeto que pode beneficiar jovens,trazer pra essa realidade, eu sou muito grata. É difícil ser mãe de menino aqui dentro dessa realidade, não é fácil. Mas o Richard mudou bastante depois que veio pra esse projeto, eu gostei de ver o esforço dele”.

Poline Batista


Ana Beatriz Teixeira também deu seu depoimento, contando que no início estava tímida de ter que interagir com as crianças, mas que ao longo do tempo foi aprendendo a lidar. O mais importante, para ela, foi ter passado por todas as formações do Ecoa, que a fizeram acreditar no seu potencial e se esforçar ainda mais para, num futuro próximo, ser uma bióloga. Seu pai, Davi, também expressou a gratidão pelo projeto, lembrando de seu próprio passado quando foi um adolescente para o qual não davam futuro, e hoje é visto como um pai trabalhador. Sobre o projeto, comentou: “É importante para esses jovens, o futuro deles está nas nossas mãos”.

Danúbia Souza, mãe da Fernanda de Souza, contou que a filha é reconhecida na rua pelas atividades nas escolas. Foto: Ana Cristina da Silva.
Danúbia Souza, mãe da Fernanda de Souza, contou que a filha é reconhecida na rua pelas atividades nas escolas. Foto: Ana Cristina da Silva.

Ana Beatriz Teixeira e Richard Batista introduziram a exibição de um vídeo onde os agentes falam sobre o Ecoa. Foto: Ana Cristina da Silva.
Ana Beatriz Teixeira e Richard Batista introduziram a exibição de um vídeo onde os agentes falam sobre o Ecoa. Foto: Ana Cristina da Silva.

Quem também quis deixar uma mensagem para os jovens foi Nlaisa Luciano, que contou ter iniciado sua participação em projetos do CEASM aos 14 anos, e hoje se tornou educadora do CPV, o que mostra que o Ecoa pode ser só o primeiro passo: “Vendo esses rostos eu tenho certeza que eu não vou ver só agora no Ecoa Maré, porque essa instituição tem algo bom que a gente acaba construindo redes de afeto”.


O diretor do CEASM Luiz Antonio de Oliveira também comentou a alegria de ver o sucesso do projeto, e especificamente um projeto que sai do espaço institucional do CEASM e do Museu, intervindo nas escolas e tendo um retorno tão positivo. Ele ainda relembrou que, quando o EcoRede deixou de ter recursos para atuar, em 2018, as escolas procuravam o CEASM pedindo seu retorno, mas só agora foi possível. A esperança é que uma nova fonte de recurso torne possível um segundo ciclo do Ecoa.


Para “dar uma palhinha” do que foi a ação do Ecoa nas escolas, os agentes executaram a esquete teatral “Aqui não é lugar pra isso”, criada para turmas de Ensino Fundamental I. Na esquete, a protagonista Dona Laura é uma consumista, que nunca perde as ofertas do Mercadão do Povo, e compra além do que precisa morando sozinha com a filha. Os vizinhos começam a conscientizá-la de que não é preciso comprar tanto, e ensinam métodos para controlar seu impulso. Atuaram na esquete Ana Beatriz Teixeira, Marcos Vinícius Farias, Fernanda de Souza e Richard Batista, mas Yasmin Miranda e Ana Beatriz Paiva ajudaram na criação da esquete, e foi fundamental a orientação do ator e membro da equipe do Ecoa Matheus Frazão.

A esquete mostra uma mãe que, de tão consumista, acaba desperdiçando. Foto: Ana Cristina da Silva.
A esquete mostra uma mãe que, de tão consumista, acaba desperdiçando. Foto: Ana Cristina da Silva.
Números e resultados

O coordenador Guilherme Paiva e a educadora Thais Felicidade apresentaram os dados do projeto. Consistia em atividades dentro do CEASM e dentro das escolas: no CEASM, formações de cunho sociopolítico para os adolescentes, com temas como cidadania, trabalho, pertencimento e perspectiva de futuro. A partir dessas formações, eles criavam as ações que seriam executadas nas escolas. O coordenador comentou o quanto o processo é importante num projeto social como esse:


“O projeto social não nasce só para atender uma demanda, ele nasce em prol do processo, como por exemplo potencializar esses jovens para estarem atuando, para entrarem no mercado de trabalho… o projeto trabalha com potencialidades”.

Guilherme Paiva, coordenador do Ecoa Maré



Guilherme Paiva apresentou os resultados do projeto com Thais Felicidade. Foto: Ana Cristina da Silva.
Guilherme Paiva apresentou os resultados do projeto com Thais Felicidade. Foto: Ana Cristina da Silva.

As atividades chegaram em 11 escolas, sendo sete Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI), uma creche municipal e três escolas municipais. Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Vila dos Pinheiros e Nova Holanda foram as favelas contempladas. No total, puderam receber e interagir com as atividades 791 crianças do Ensino Fundamental I e 1074 da Educação Infantil. Thais Felicidade reforçou o quanto esses números se expandem quanto se pensa que as crianças são multiplicadores daqueles conhecimentos: “A criança acaba levando aquela experiência para a sua família”.


Tanto equipe quanto os agentes destacaram o impacto que as operações policiais tiveram na execução do projeto: desde seu início foram 20 operações em toda a Maré, cancelando as atividades de 10 dias do Ecoa, e em mais 2 dias nem todos puderam participar. Além de paralisar as ações do dia da operação, geram uma necessidade de rever a agenda das escolas e tentar remarcar para cumprir o atendimento.

Equipe e agentes de promoção socioambiental do Ecoa Maré. Foto: Ana Cristina da Silva.
Equipe e agentes de promoção socioambiental do Ecoa Maré. Foto: Ana Cristina da Silva.

O Seminário se encerrou com muita admiração pelo que foi o Ecoa Maré nos últimos meses e a esperança de que possa retornar em breve, atingindo mais adolescentes e crianças do território.

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